ANTEPROJETO - Código ProcessoCivil
William Shakespeare, dramaturgo inglês, legou-nos a lição
de que o tempo é muito lento para os que esperam e muito rápido para
os que têm medo.
Os antigos juristas romanos, por sua vez, porfiavam a
impossibilidade de o direito isolar-se do ambiente em que vigora,
proclamando, por todos, Rudoolf Jhering no seu L.espirit Du droit romain, que o método imobilizador do direito desaparecera nas trevas do passado.
Essas lições antigas, tão atuais, inspiraram a criação de uma
Comissão de Juristas para que, 37 anos depois do Código de 1973, se
incumbisse de erigir um novel ordenamento, compatível com as
necessidades e as exigências da vida hodierna.
É que; aqui e alhures não se calam as vozes contra a
morosidade da justiça. O vaticínio tornou-se imediato: “justiça
retardada é justiça denegada” e com esse estigma arrastou-se o Poder
Judiciário, conduzindo o seu desprestígio a índices alarmantes de
insatisfação aos olhos do povo.
Esse o desafio da comissão: resgatar a crença no judiciário e
tornar realidade a promessa constitucional de uma justiça pronta e
célere.
Como vencer o volume de ações e recursos gerado por uma
litigiosidade desenfreada, máxime num país cujo ideário da nação abre
as portas do judiciário para a cidadania ao dispor-se a analisar toda
lesão ou ameaça a direito?
Como desincumbir-se da prestação da justiça em um prazo razoável diante de um processo prenhe de solenidades e recursos?
Como prestar justiça célere numa parte desse mundo de Deus, onde de cada cinco habitantes um litiga judicialmente?
Kelsen, o jurista de Viena, de há muito exaurido de perseguir
o valor justiça, concluiu não ser importante saber de imediato a
resposta, senão, não parar de questionar.
O impulso para alcançar um ideal e que estimula os homens,
são os sonhos, e esses não inventam , passam dos dias para a noite e é
deles que devemos viver, não importando onde estejam as soluções.
No vaticano, há um afresco sobre a justiça, no qual Platão
aponta para os céus e Aristóteles para a terra. Utopia ou realidade?
“Justiça”; esse valor que levou à cruz o senhor das idéias e das
palavras, e que ainda é o sonho a ser alcançado, assim como o era o
desejo dos antigos em alcançar as estrelas; fator decisivo para o
desenvolvimento da humanidade.
O tempo não nos fez medrar e de pronto a Comissão enfrentou a tormentosa questão da morosidade judicial.
Queremos justiça!!! Prestem-na com presteza; dizem os cidadãos.
Sob o ecoar dessas exigências decantadas pelas declarações
universais dos direitos fundamentais do homem, e pelas aspirações das
ruas, lançou-se a comissão nesse singular desafio, ciente de que todo o
poder emana do povo, inclusive o poder dos juízes, e em nome de nossa
gente é exercido.
A metodologia utilizada pela comissão visou a um só tempo vencer o problema e legitimar a sua solução.
Para esse desígnio, a primeira etapa foi a de detectar as
barreiras para a prestação de uma justiça rápida; a segunda, legitimar
democraticamente as soluções.
No afã de atingir esse escopo deparamo-nos com o excesso de
formalismos processuais, e com um volume imoderado de ações e de
recursos.
Mergulhamos com profundidade em todos os problemas, ora
erigindo soluções genuínas, ora criando outras oriundas de sistema
judiciais de alhures, optando por instrumentos eficazes, consagrados nas
famílias da civil law e da common law, sempre prudentes
com os males das inovações abruptas mas cientes em não incorrer no
mimetismo que se compraz em repetir, ousando sem medo .
A legitimação democrática adveio do desprendimento com que
ouvimos o povo, a comunidade jurídica e a comunidade científica. O
volume das comunicações fala por si só: foram 13 mil acessos a página
da Comissão, audiências públicas por todo o Brasil nas quais recebemos
duzentas e sessenta sugestões e a manifestação da Academia, aí
compreendidos todos os segmentos judiciais; da Associação Nacional dos
Magistrados à Ordem dos Advogados do Brasil,
perpassando por institutos científicos e faculdades de direito, as quais
formularam duzentas proposições, a maior parte encartada no
anteprojeto.
Em suma: a sociedade brasileira falou e foi ouvida.
O desvanecimento que hoje nos invade é o de que sonhamos
junto com a nação brasileira, ousamos por amor ao futuro de nosso país
e laboramos com empenho, alegrias e sofrimentos, numa luta incansável
em prol da nossa pátria.
Era mesmo a hora de mudar: os novos tempos reclamam um novo processo , como proclamava Cesare Vivante : Altro tempo, Altro Diritto. O
Brasil clama por um processo mais ágil, capaz de dotar o país de um
instrumento que possa enfrentar de forma célere, sensível e efetiva,
as misérias e as aberrações que passam pela Ponte da Justiça.
Missão cumprida, Senhor Presidente. Receba esse anteprojeto
sob a magia da oração em forma de poesia, daquele que valia por uma
literatura; o saudoso e insuperável Fernando Pessoa : É o tempo da
travessia E se não ousarmos fazê-la teremos ficado .... para sempre...
À margem de nós mesmos.
Que Deus permita-nos propiciar com esse novo código a felicidade ue o povo brasileiro merece.
Ministro Luiz Fux
Presidente da Comissão
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