Nelson Mandela:O herói da luta antiapartheid, morreu.
O herói da luta antiapartheid, morreu em sua residência de
Johannesburg, informou o presidente sul-africano Jacob Zuma em mensagem à
Nação. Nelson Mandela "faleceu", declarou Zuma. "Nosso querido Madiba terá
funerais de Estado" e as bandeiras serão colocadas a meio pau a partir
desta sexta-feira e até seus funerais.
O ex-líder já havia sido levado ao hospital pelo menos seis vezes em
apenas dois anos. Ele deixou a instituição médica em setembro após
passar 87 dias internado para tratar uma infecção recorrente nos
pulmões.
Em abril, ele chegou a ficar dez dias hospitalizado por causa de uma
pneumonia. Antes, em março, o ex-presidente sul-africano já havia sido
internado para ser submetido a exames de rotina. Meses antes, em dezembro de 2012, ele foi operado por causa de cálculos
na vesícula, mas acabou passando mais de duas semanas no hospital
devido a complicações respiratórias.
Seus problemas pulmonares se devem, provavelmente, às sequelas da
tuberculose contraída na prisão da ilha de Robben, onde Mandela passou
18 dos 27 anos de prisão sob o regime racista do apartheid. Libertado em 1990, Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1993 por
sua atuação nas negociações de paz que instalaram uma democracia
multirracial na África do Sul, ao lado do último presidente do regime do
apartheid, Frederik de Klerk.
Mandela foi o primeiro presidente negro de seu país (1994-1999),
tornando-se um líder de consenso que soube conquistar o coração da
minoria branca. Sua última aparição pública aconteceu na cerimônia de encerramento da Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul. Madiba, como era conhecido em seu país, faria 95 anos no dia 18 de julho.
De Estado racista a país democrático
Nelson Rolihlahla Mandela era um homem simples, que gostava de assistir
ao pôr-do-sol sul-africano enquanto escutava Handel e Tchaikovsky, seus
compositores favoritos. Mas, durante 27 anos, ele viveu atrás das
grades, privado da luz do sol e das músicas que tanto apreciava. Advogado, líder rebelde e ativista pelos direitos da maioria negra, foi
preso em novembro de 1962. Permaneceu na cadeia até fevereiro de 1990.
Nesse período, recusou ofertas de revisão de sua pena e de liberdade
condicional em troca de concessões ao governo que combatia.
Foi na prisão que Mandela tornou-se o principal ícone da luta contra a
discriminação racial imposta pelo apartheid na África do Sul.
Transformou a cadeia em um centro de aprendizado político para os
colegas detentos, conquistou a simpatia de guardas e carcereiros e
conseguiu, ao longo dos anos, angariar apoio internacional para sua
causa.
Libertado em 1990, Mandela conduziu as negociações para transformar o
país em uma democracia multirracial — trabalho pelo qual recebeu o
Prêmio Nobel da Paz, em 1993. Já vitorioso e empossado presidente, em 1994, conduziu de forma
pacífica as mudanças que transformaram o Estado racista da África do Sul
em um país democrático.
Casou-se três vezes, a última delas aos 80 anos, com Graça Machel,
viúva de Samora Machel, ex-presidente de Moçambique e aliado ao CNA
(Congresso Nacional Africano, partido de Mandela). Também foi casado por
13 anos com Evelyn Ntoko Mase, e por 38 anos com Winnie Madikizela, ou
Winnie Mandela.
O guarda noturno vira advogado
Nelson Mandela nasceu em 18 de julho de 1918, no vilarejo de Mvezu, na
região de Transkei. Filho único de Nosekeni Fanny e Henry Gadla Mandela —
conselheiro do chefe supremo do povo thembu, Jongintaba Dalindyebo —,
Mandela foi o primeiro de sua família a frequentar a escola.
Matriculou-se em 1939 na Universidade Fort Hare College, onde conheceu o
futuro revolucionário Oliver Tambo (1917-1993), de quem se tornou um
grande amigo.
Ambos foram expulsos da faculdade em 1940 por participar de uma greve. Mandela iria concluir o curso por correspondência. Ao retornar à tribo, Mandela desentendeu-se com o chefe Dalindyebo, que já havia arranjado uma noiva para que ele se casasse.
Partiu para Johannesburgo, onde trabalhou como guarda noturno em uma
mina de ouro e depois em uma imobiliária. Em 1942, filiou-se ao CNA
(Congresso Nacional Africano), movimento que lutava contra o apartheid, e
matriculou-se em direito na Universidade de Witwatersrand, em 1943.
No auge da Segunda Guerra Mundial, passou a integrar, junto com Tambo,
um grupo de 60 jovens sul-africanos sob a liderança de Antom Lembebe
(1914-1947). O grupo queria transformar o CNA em um movimento de massa e
romper com a política legalista e pacífica da velha guarda da
organização, que não vinha dando resultados.
Desse trabalho nasceu a Liga da Juventude do CNA, em 1944. A disciplina
e a capacidade de liderança de Mandela logo impressionaram os colegas, e
ele foi eleito secretário da Liga da Juventude, em 1947. Sob sua liderança, o grupo conseguiu ganhar espaço na estrutura do CNA.
Após a vitória dos africânderes, que apoiavam o sistema de segregação
racial, na eleição de 1948, Mandela conseguiu fazer com que o Programa
de Ação proposto pela liga — e que propunha boicotes, greves e
desobediência civil — fosse adotado como uma política oficial da
organização.
O massacre de Sharpeville e a luta armada
Em 1952, Nelson Mandela correu o país para liderar a Campanha em
Desafio às Leis Injustas, que angariou o apoio de milhares de pessoas
comuns para o CNA e culminou com uma desobediência civil em massa.
Como retaliação, o governo o proibiu de participar de atos públicos e
de sair de Johannesburgo por seis meses. Neste mesmo ano, Mandela e
Tambo abriram o primeiro escritório de advogados negros da África do
Sul.
Nessa época, Mandela organizou os membros do CNA em uma rede nacional
clandestina, prevendo que o grupo entraria na clandestinidade.
Participou de protestos pacíficos até 1961, quando aderiu à luta armada.
O marco para a mudança foi o massacre de Sharpeville, em 1960, quando a
polícia atirou em manifestantes negros que protestavam contra o regime
do apartheid, matando 69 pessoas.
O CNA entrou logo depois na clandestinidade, como previra Mandela, que
chegou a ser detido por alguns meses. Quando foi solto, ele fundou o
Umkhonto we Sizwe (MK), braço armado do CNA. Em 1962, deixou o país para
um treinamento militar na Argélia. Caçado pelas autoridades, foi preso novamente em agosto daquele ano.
Dessa vez, escapou da pena de morte por enforcamento e foi condenado à
prisão perpétua em uma penitenciária perto da cidade do Cabo.
Da prisão à Presidência foram quase três décadas
Mandela só seria libertado 27 anos mais tarde a mando do então
presidente sul-africano Frederik Willem de Klerk, após uma intensa
campanha do CNA e de uma grande pressão internacional. Em liberdade, voltou a ser protagonista na luta contra a segregação
racial. Sua liderança foi fundamental na luta final contra o apartheid
na África do Sul.
A vitória na luta contra as leis segregacionistas em seu país lhe
garantiu, em 1993, o Prêmio Nobel da Paz, junto com De Klerk. Em 1994,
Mandela foi eleito presidente da África do Sul nas primeiras eleições em
que os negros puderam votar desde o fim do apartheid.
Em seu mandato, que durou até junho de 1999, conseguiu adquirir
respeito da comunidade internacional pelo seu regime de conciliação. As
práticas racistas foram proibidas de uma vez por todas em sua
administração.
Depois de presidente, Mandela voltou a ser militante
Mesmo após o fim do mandato, Mandela continuou atuando como militante.
Em 2003, chegou a fazer pronunciamentos contra a política externa do
então presidente dos EUA, George W. Bush. Ainda se engajou em campanha para arrecadar recursos para combater a
Aids, que foi denominada "46664", seu número de identificação na prisão.
Em 2005, revelaria ao mundo que a doença matara seu filho Makgatho, em 6
de janeiro daquele ano. No ano seguinte, aos 85 anos, anunciou que
sairia da vida pública por problemas de saúde.
Continuou recebendo prêmios, como o concedido pela Anistia Internacional, de Embaixador de Consciência, em 2006. Em 2010, com a saúde debilitada e após a morte de sua bisneta, ficou
ausente durante quase todos os eventos relacionados à Copa do Mundo em
seu país. Mas apareceu na festa de encerramento. Carregado em um
carrinho de golfe, foi aplaudido de pé pelo público, que lotou o famoso
estádio Soccer City.
Ao morrer, era considerado um herói para negros e brancos de seu país e um símbolo da igualdade racial em todo o mundo.
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